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“Cristiano Ronaldo nasceu com o bilhete dos condenados à infelicidade”
O texto de Luís Osório ficou viral nas redes sociais…
Cristiano Ronaldo voltou ontem a inscrever o seu nome na história ao completar as 200 internacionalizações pela seleção nacional de futebol, sendo o primeiro jogador a registar esta marca, num jogo de apuramento para o campeonato da europa de 2024 frente à Islândia, selando a partida com o golo decisivo “em cima da hora”.
No final da partida foram muitos os elogios nas redes sociais. Um deles destacou-se. Luís Osório partilhou um texto no seu “Postal do Dia” onde revê a história do craque português, que acabou por viralizar.
“Cristiano Ronaldo nasceu com o bilhete dos condenados à infelicidade”, começa por escrever o jornalista que destaca inicialmente: “E quando acaba um jogo, o Cristiano, o nosso Cristiano, podre de rico, em vez de se desleixar e gozar o dinheiro, mergulha o corpo em água gelada para recuperar mais depressa para o próximo jogo”, pode ler-se.
Mais à frente no texto, Luís Osório atira: “Eu sou apenas mortal. Eu e tu. O Cristiano é outra coisa. Morrerá como nós, mas a seguir será encaminhado para o jardim dos imortais. E aí poderá beber um copo de vinho pela primeira vez. Um vinho da colheita dos deuses”.
Veja em baixo a publicação e leia o texto na íntegra:
POSTAL DO DIA
Cristiano Ronaldo nasceu com o bilhete dos condenados à infelicidade
1.Cristiano Ronaldo completará hoje na Islândia um impensável número de internacionalizações: o primeiro jogador em toda a história do futebol a jogar 200 vezes por uma seleção nacional!Um número estratosférico.E ainda mais inigualável se levarmos em linha de conta que Cristiano já conquistou tudo.É milionário.
Pode fazer o que lhe apetecer até ao fim dos seus dias.Poderia estar a gozar a fama e o dinheiro.
Poderia legitimamente oferecer um pouco de descanso ao seu corpo, deixar-se amolecer um bocadinho, gozar as suas casas, as suas piscinas, viajar sem ser em estágio, oferecer férias a si próprio, mas não… Cristiano Ronaldo não o faz.Quando tantos desistem por não conseguirem aguentar mais viagens.
Quando alguns, também em Portugal, preferem concentrar-se nos clubes por a força já não ser a mesma, por a idade já não ser a mesma, por a família pedir mais presença, por as pernas não darem mais, ele não falha um estágio.E quando os novos chegam à seleção ele lá está para os receber.
E quando acaba um jogo, o Cristiano, o nosso Cristiano, podre de rico, em vez de se desleixar e gozar o dinheiro, mergulha o corpo em água gelada para recuperar mais depressa para o próximo jogo.
2.Cristiano Ronaldo é um tipo imperfeito. Egocêntrico. Vaidoso. Individualista.
Num tempo em que se glorificam os perfeitinhos que não fazem mal a uma mosca, os que se fazem de mortos, os sonsinhos que depois por trás escondem vícios e perversidades, é um alívio que Cristiano seja o contrário disso. Um alívio que, com o seu exemplo, nos tenha provado que não há bilhetes premiados às estrelas ou às chamas eternas.
Cristiano nasceu condenado a não ser coisa nenhuma. Poderia sobreviver, poderia quando muito fazer uma fintas à vida e marcar uns golos de ocasião que escondessem o peso do peso que carregava. Mas o seu talento, a sua capacidade de trabalho e o pacto que assinou com o destino, virou todas as profecias do avesso.
3. Cristiano que nasceu quando não era para nascer. A mãe Dolores já não aguentava mais.
Não podia ter aquele bebé, a comida era pouca, o esforço era muito e por vezes o que havia não chegava para alimentar tantas bocas. A Dolores quis abortar, mas qualquer coisa a impediu á última hora.
E aquele bebé nasceu. Há 39 anos, a mãe Dolores tomou a decisão. Contra tudo e contra todos. E o bebé veio mesmo. Com o tal bilhete dos desvalidos que fez por rasgar. Meteu na cabeça que não iria ser como as sombras. Que não iria ser como o pai que se rendeu ao álcool – e por isso, Cristiano nunca bebeu uma gota de álcool.
Meteu na cabeça que iria chegar ao topo do mundo. E meteu na cabeça que nesse caminho para as estrelas nunca se esqueceria de onde veio, amparando toda a gente, fazendo de toda a gente mais do que aquilo que algum dia sonharam. Hoje, dia em que supera uma marca nunca antes alcançada, é tempo de celebrar o mais perfeito de todos os homens imperfeitos.
Um vencedor apesar de todos os fracassos. Tempo de celebrar o seu sorriso de menino travesso, o mesmo que tinha quando, há vinte anos, Scolari o chamou pela primeira vez. Tinha os dentes por arranjar, acne e um corpo magrinho. Mas tinha o mesmo sorriso e a mesma força interior que só ele e os deuses podem conhecer e descrever. Eu sou apenas mortal. Eu e tu.
O Cristiano é outra coisa. Morrerá como nós, mas a seguir será encaminhado para o jardim dos imortais. E aí poderá beber um copo de vinho pela primeira vez. Um vinho da colheita dos deuses. LO
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